PUB

“Proffee”, o batido famoso do TikTok. É seguro e benéfico beber café com proteína?

25 Jun 2024 - 08:30

“Proffee”, o batido famoso do TikTok. É seguro e benéfico beber café com proteína?

Chama-se “proffee” e é uma tendência crescente no TikTok. A receita clássica desta bebida tem apenas dois ingredientes: café e proteína em pó. Por norma, os amantes deste batido adicionam “um scoop” de proteína (que equivale a cerca de 30g) ao café. Já a quantidade de café varia bastante. Há quem opte apenas por juntar um café expresso, mas também há quem adicione dois ou três. 

Esta bebida ficou na moda rapidamente e, desde então, têm surgido várias adaptações. Uns bebem um “proffee” quente, outros preferem adicionar algumas pedras de gelo. O leite (ou a bebida vegetal) costuma ser um ingrediente de eleição nas receitas partilhadas online. 

Além disso, a canela, o extrato de baunilha, o caramelo e os xaropes dos mais variados sabores também estão presentes em variações do “proffee”. Mas será que beber café com proteína tem benefícios para a saúde? Existem riscos associados à ingestão desta mistura?

Como se justifica esta tendência? O “proffee” tem benefícios para a saúde?

Em esclarecimentos ao Viral, o nutricionista Ricardo Cotovio adianta que “não parece haver um grande benefício” associado à toma conjunta de café e proteína em pó. Isto é, esclarece, “não há uma potenciação de nenhum dos componentes, nem a proteína potencia a cafeína, nem a cafeína potencia a proteína”.

No entanto, Ricardo Cotovio sugere uma possível justificação para a moda do “proffee”. 

Por um lado, o café e a proteína em pó são duas substâncias muito consumidas por pessoas que praticam exercício físico com regularidade. Assim, salienta, “junta-se o útil ao agradável” ao fazer-se este tipo de bebida “prática e fácil”.

Além disso, “o café é uma bebida muito consumida e tem um sabor agradável para muitas pessoas”. 

PUB

Pelo contrário, refere o nutricionista, “nem todas as pessoas adoram os sabores da proteína” em pó. 

“Ou são muito doces, ou muito fortes, e o café acaba por cortar um pouco esses sabores”, por isso, esta mistura acaba por gerar “uma bebida mais agradável”, defende.

Que cuidados ter na ingestão do “proffee”?

Segundo Ricardo Cotovio, os possíveis riscos para a saúde associados a esta bebida prendem-se com a quantidade que se ingere. 

Em relação à cafeína (presente no café), “importa sempre dizer que nem toda a gente pode, no fundo, usufruir dela da mesma forma”. 

O nutricionista refere-se “a pessoas com algum tipo de condições médicas, como hipertensão e problemas cardíacos” e, até, “mulheres que estejam a amamentar ou grávidas”.

Além disso, Ricardo Cotovio menciona ainda “crianças, adolescentes, pessoas com ansiedade, pessoas com problemas de sono, e, até, pessoas que estejam a tomar medicação específica”.

Com isto, o nutricionista não sugere que estas pessoas não devem beber café. Mas, nestes casos, “o controle e a gestão devem ser feitos com outro tipo de preocupação e de cautela”, frisa.

Em termos de quantidades, “para quem pode, efetivamente, tomar cafeína, uma quantidade diária entre 200 e 400 miligramas parece ser segura e benéfica”, salienta.

Segundo um documento da Associação Portuguesa de Nutrição (APN), “o consumo contínuo (geralmente, mais de 5 dias) de doses altas de cafeína podem levar à intoxicação ou cafeinismo”, que provoca sintomas, como “ansiedade, nervosismo, insónias, taquicardia e náuseas”.

PUB

Noutro plano, “a questão da proteína é diferente”, destaca o nutricionista. 

“Todos os seres humanos necessitam de aporte proteico, que varia de acordo com um conjunto de fatores, como a condição clínica, a idade e a atividade física praticada”, explica.

Em contextos específicos, há quem recorra à suplementação de proteína, sobretudo em pó. No entanto, do ponto de vista nutricional, aponta Ricardo Cotovio, “deve-se sempre tentar garantir as necessidades proteicas através da dieta”, algo que, na visão do nutricionista, “não é difícil”. 

Tal como tinha referido ao Viral a nutricionista Catarina Custódio, em declarações anteriores ao Viral, “a recomendação para suprimir as funções básicas” de proteína traduz-se em “0,8 gramas por quilograma” de peso corporal (ver aqui).

Se o objetivo é “otimizar o aumento ou manutenção de massa muscular e o aumento de força, parece ser interessante um valor superior, de pelo menos 1,2g/kg, sendo que, para a maioria das pessoas, um intervalo entre 1,6 g/kg e 2,2g/kg parece ser o ideal”, destacou a mesma fonte.

Contudo, “a partir de 2,5 gramas por quilo de peso, uma ingestão proteica acaba por não trazer qualquer tipo de benefício”. Ou seja, “havendo uma ingestão excessiva de proteína, parte dela acaba por ser degradada e excretada”, acrescentou.

Aliás, frisa Ricardo Cotovio, “o excedente energético associado à ingestão de proteína pode contribuir para o aumento de massa gorda”.

Por outro lado, existem algumas pessoas que devem ter um cuidado extra com a suplementação de proteína. “Por norma, falamos de proteína whey, ou seja, proteína do soro do leite, que, regra geral, tem a lactose”, esclarece o nutricionista.

Por isso, este suplemento pode não ser adequado para pessoas com intolerância à lactose, por exemplo, nem para pessoas com outra “alergia ou intolerância a outro constituinte”, defende.

PUB

Além disso, “o excesso de proteína pode agravar a condição clínica de pessoas com algum tipo de lesão renal”, avisa. “Não é o excesso de proteína que causa dano nos rins”, esclarece, “mas quem já tem esse dano” pode estar a piorar a situação.

Quais os benefícios do café? E da proteína em pó?

No que diz respeito ao café, quando consumido nas doses adequadas, tem benefícios, sobretudo “no rendimento físico e mental, no estado de alerta e na concentração”, expõe Ricardo Cotovio.

Por outro lado, na perspetiva do nutricionista, “a grande maioria das pessoas não beneficia da suplementação de proteína”.

Muitas vezes, prossegue, “não é preciso estarmos a gastar uns euros extra a comprar um suplemento, quando temos alternativas mais baratas e saborosas por casa”, que permitem atingir o aporte proteico necessário.

PUB

Apesar disso, em alguns contextos, pode ser benéfico recorrer a esta suplementação. “Pessoas com dietas específicas, por exemplo, podem necessitar da utilização de suplementos”, refere. 

Além disso, “os indivíduos que tenham maior exigência física vão necessitar, naturalmente, de maiores quantidades de proteína”. Por isso, podem beneficiar da suplementação.

Por último, conclui Ricardo Cotovio, “à partida, os idosos também vão precisar de um pouco mais de proteína, porque, com a idade, a massa muscular vai se degradando com maior facilidade”.

25 Jun 2024 - 08:30

Partilhar:

PUB